Pink Farms busca R$ 4 mi e embaixadores para marca com crowdfunding
A Pink Farms não se chama assim por acaso. Não é moda, militância ou marketing. A operação da startup, que é uma fazenda vertical urbana fundada em 2017, é toda rosa. E rosa fica quem a visita. A tonalidade vem da mistura das cores azuis e vermelhas, perfeitas para produção de folhosas, e se espalha pelo galpão localizado em plena Vila Leopoldina, na capital paulista. Investida da SP Ventures e da Capital Lab, em duas rodadas de R$ 2 milhões cada, a empresa quer agora mais R$ 4 milhões.
Os recursos vão ajudar a pavimentar o caminho para o projeto da companhia, que é ganhar São Paulo e, então, conquistar o Brasil. E, depois do país, a América Latina. Sim, o sonho grande.
Atualmente, a produção é de 1,7 tonelada de folhas por mês — sim, por mês — comercializadas para 35 pontos de varejo da cidade, de restaurantes a supermercados. Tudo isso ocupando 25% da capacidade de um galpão que equivale a 500 metros quadrados de área para cultivo. Com o dinheiro novo, a ideia é dobrar a produção nesse ponto — e deixar o restante do espaço para pesquisas — e ter fôlego para buscar mais um galpão. Na mira, dessa vez um terreno com 5 mil metros quadrados, em outro bairro da cidade.
Mas, no lugar de recorrer à sua base de sócios para essa rodada, a empresa decidiu ir por outro caminho: o do crowdfunding. Longe da conhecida vaquinha virtual apenas por uma boa causa, em que os recursos são praticamente doados, aqui estão atrelados a uma fatia de 14,9% da companhia, por meio de uma debênture conversível (dentro de dois anos).
O objetivo desse formato, porém, é buscar muito mais do que o dinheiro. “Acreditamos que dessa forma vamos conseguir atrair investidores-consumidores que atuam como verdadeiros embaixadores da marca”, explica Geraldo Maia, sócio-fundador e presidente da Pink Farms. “Desde que criamos o negócio, em 2017, eu e meus dois sócios sempre tivemos muito claro que vamos apostar na marca. Não é só abastecimento. É produto.”
Antes da pandemia, a abertura da produção para visitação fazia parte dessa estratégia de posicionamento. Com cerca de 8 mil seguidores no Instagram, entre 5% e 10% dessa base já foi pessoalmente ver os prédios cor-de-rosa de verduras. A ideia é reabrir as portas quando possível e seguro.
Fora do Brasil, o crowdfunding é cada vez mais usado e por aqui vem ganhando adeptos, enquanto o venture capital não é acessível ao público geral. Uma das principais fintechs da Inglaterra, a Monzo, avaliada em quase US$ 2 bilhões, nunca usou outra modalidade. Nada de fundos de capital semente ou de risco, nem mesmo oferta pública inicial (IPO) em bolsa.
Entre os motivos do sucesso dessa estrutura, está a relação direta criada entre quem investe e as companhias e suas causas. É uma nova comunidade que se forma. É quase um marketing reverso. No lugar de pagar para se divulgar, os negócios atraem sócios que atuam na sua divulgação.
A captação é organizada por uma plataforma regulada e registrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que, além de promover a oferta, investe junto e ainda estrutura toda a parte informacional para os investidores — trata-se da SMU, a primeira plataforma de crowdfunding do Brasil, fundada em 2013. A captação abriu ao público — sim, qualquer público — na semana passada. O investimento mínimo é de R$ 5 mil.
Em agosto do ano passado, o regulador brasileiro do mercado flexibilizou a instrução justamente para facilitar captações por empresas de pequeno porte por meio dessas plataformas.
De acordo com Geraldo Maia, a avaliação implícita do negócio nessa rodada varia de R$ 18 milhões a R$ 22,5 milhões. Mas conta de startup não é assim tão linear. A fatia no capital relacionada a atual captação está atrelada à captação série A que a companhia fizer no futuro, quando alcançar uma avaliação de R$ 30,5 milhões.
Pink Farms: tonalidade é resultado da mistura de luzes vermelhas e azuis, perfeitas para desenvolvimento das folhas@danmagatti/Divulgação
Quem investe via crowdfunding, coloca dinheiro em uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) aos cuidados da SMU. Essa sociedade, por sua vez, compra os títulos da Pink Farms.
A startup foi criada por três sócios engenheiros — dois elétricos e um de produção — apaixonados por cultivo. Aliás, essa paixão pelo negócio e seu propósito é algo que Maia volta e meia deixa evidente em meio às suas explicações sobre a operação ou sobre a história da empresa.
A companhia é a clássica startup. A receita é grande para quem viu a operação crescer e pequena para quem olha de fora. Em 2021, sem contar as expansões planejadas, deve totalizar R$ 1,5 milhão… EXAME Leia mais em indicesbovespa. 01/02/2021