Os M&As estão bombando: entenda os porquês
Executivos de M&A de bancos locais e internacionais e butiques descrevem ao Brazil Journal um pipeline diversificado — na educação, saúde, varejo e infraestrutura — e dizem que 2020 só não baterá recordes porque muita coisa ficou parada ao longo do primeiro semestre.
Mas agora… “o nível de diálogo está muito forte, e devemos ter vários anúncios em setembro/outubro,” diz Daniel Wainstein, da recém-formada Seneca Evercore.
A própria criação da Seneca atesta o momento de mercado: o grupo de banqueiros que fazia parte da Greenhill comprou a operação local e se associou à Evercore, uma outra boutique americana de M&A. O mercado especula que a Evercore colocou um caminhão de dinheiro para viabilizar a associação com a Seneca.
A queda da Selic para níveis inimagináveis e o crescimento do mercado de capitais derrubaram o custo de capital para as grandes empresas — em outras palavras: nunca foi tão barato comprar um concorrente. Empresas que costumavam manter o caixa alto para buscar receitas financeiras também abraçaram a mudança de paradigma e agora apostam que o mercado de capitais veio para ficar (e para ajudar a financiar transações).
Alimentando a ponta da oferta: multinacionais e companhias familiares.
Várias multinacionais com problemas na matriz estão colocando à venda suas operações no Brasil. “Aqui é onde eles têm as maiores subsidiárias; se elas vendem a unidade do Peru, não faz cócegas,” diz Wainstein.
Empresas familiares que já sofreram muito com as crises dos últimos anos estão concluindo que é hora de diversificar o patrimônio, engordando o pipeline.
O processo privatização ensaiado pelo governo também promete aquecer o mercado: a forte disputa entre a AES Corporation e a Eneva pela participação do BNDES na AES Tietê foi um exemplo claro do interesse que esses ativos podem levantar. (Mas no capítulo privatizações, o grosso deve ficar para 2021.)
No lado comprador, “as empresas estão vendo que podem aproveitar os mercados de equity e de dívida para comprar ativos que sempre desejaram mas nunca conseguiram,” diz Marco Gonçalves, o Marcão, fundador da Riza Capital. “Quem já é grande vai crescer mais ainda — a verdade é essa.” Ontem, por exemplo, a Stone anunciou a compra da Linx por R$ 6 bi.
Outra fonte de demanda são os fundos de private equity, que estão com muitos recursos levantados e ainda não investidos. De acordo com um banco internacional, esses fundos têm mais de R$ 50 bilhões em liquidez para investir.
No BTG Pactual, o head de M&A, Bruno Amaral, espera que a receita de sua área seja “em linha com o ano passado, muito em função de uma recuperação de volumes neste segundo semestre.”
A disputa pelos deals, fees e placas de M&A está ficando mais acirrada na medida em que os investidores têm atribuído múltiplos mais altos aos players do setor financeiro com maior componente de receitas de serviços. No mês passado, os anúncios de resultados nos EUA mostraram que os bancos com mais exposição a M&A e mercado de capitais se saíram melhores do que aqueles que dependem principalmente de crédito.
Só a disputa pela operação móvel da Oi vai adicionar R$ 16,5 bilhões ao valor das transações este ano, e deve catapultar os sete bancos envolvidos para a frente dos league tables — os rankings que os banqueiros usam para mostrar serviço e conseguir mais negócios.
A Oi está sendo assessorada pelo Bank of America. A Vivo, pelo JP Morgan e BR Partners (que protocolou pedido de IPO na CVM). A TIM, pelo Itaú BBA, Rothschild e Goldman Sachs. E a Claro, pelo Morgan Stanley.
“Quem estiver fora desta operação vai sofrer nos rankings este ano,” diz um banqueiro que lamenta estar fora do deal — por enquanto, já que a situação é fluida e pode haver reviravoltas.
Outros highlights do ano: a venda da Gaspetro e das refinarias da Petrobras, e o setor de energia renovável, que só na semana passada viu dois anúncios. A retomada da privatização da Sabesp e a venda da Copasa também são aguardadas. … Geraldo Samor Leia mais era braziljournal 12/08/2020