Mercado Bitcoin contrata bancos para IPO
A Mercado Bitcoin, plataforma brasileira de negociação de criptomoedas, já contratou os bancos para seu IPO. O líder do sindicato é o J.P. Morgan, que conta ainda com os bancos BTG Pactual, XP Investimentos e Itaú BBA, como coordenadores apurou o “Pipeline”.Os números ainda são bastante preliminares, mas a companhia deve testar um valuation inicial da ordem de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões, conforme duas fontes, considerando os múltiplos desse setor no exterior e o ritmo de crescimento neste início de ano – mas os valores ainda vão ser submetidos ao escrutínio e disposição de investidores. “A listagem da Coinbase será um parâmetro importante”, diz uma fonte próxima à operação.
A Coinbase, maior bolsa de criptomoedas dos Estados Unidos, prepara sua listagem na Nasdaq para quarta-feira. Os negócios são de tamanho distintos – a americana tem cerca de 50 milhões de clientes e a brasileira, como uma das maiores da América Latina, tem cerca de 2,5 milhões -, mas será a primeira listagem de uma bolsa de cripto.
A operação da Coinbase não é propriamente um IPO, mas uma listagem direta, como já fizeram outras companhias de tecnologia – Spotify e Palantir. Nesse modelo, a empresa não contrata um grupo de bancos e faz o passo a passo de apresentação do negócio a mercado e testagem de preços, mas se joga na Nasdaq de uma vez com as ações detidas pelos fundos, sócios e funcionários. Para garantir que haja negociação na estreia, define um volume de ações a ser vendido.
O ajuste de preço na estreia corrige o valuation definido previamente pela companhia. Há tremenda curiosidade e expectativa sobre a operação da Coinbase por ser a primeira bolsa de cripto a se listar, mas também pelos números extravagantes que circulam sobre essa operação.
Considerando a média de preços dada pela companhia em seu formulário na SEC, o valuation no último trimestre foi de US$ 68 bilhões. Com a listagem, investidores e fundos de venture capital estimam que a companhia possa chegar a US$ 100 bilhões – alguns analistas e sites americanos disseram que esse é o número atualizado internamente pela companhia após o fechamento do trimestre.
Nesse patamar, significa dizer que a bolsa de bitcoins é maior que a maioria das grandes bolsas de ações e mercadorias do mundo: o valor combinado da ICE, Nasdaq e Euronext é de US$ 98 bilhões. No Brasil, o valor equivale a cinco vezes o marketcap da B3 em dólares.
No patamar mais baixo de valuation, a empresa indica um múltiplo de 53 vezes a receita do ano passado, enquanto a ICE negocia em torno de 11 vezes, comparou a Thomson Reuters.
Analistas americanos não conseguem explicar esses números. O cenário base deles é de um valuation pouco mais de 31 vezes sobre US$ 1,3 bilhão em receita no ano passado – cinco vezes maior que a média de ICE, Nasdaq e Euronext, que é de 6,2 vezes porque a taxa de crescimento da Coinbase é cinco vezes maior que a taxa de crescimento das bolsas de ações. Sem desconto de volatilidade ou do número maior de competidores, daria uma valuation da ordem de US$ 41 bilhões.
A US$ 100 bilhões, o múltiplo seria de 78 vezes a receita passada, o que leva muitos analistas a indicarem mais possibilidade de “downside” (risco de queda) do que “upside” (risco de alta). Sem defesa das criptomoedas ou de suas bolsas, vale notar que os modelos tradicionais de avaliação não funcionaram até agora para prever a movimentação de preços.
Em 14 rodadas desde que foi fundada, em 2012, a Coinbase já levantou quase US$ 550 milhões de fundos como Tiger Global e Andreessen Horowitz. Em rodada de 2018, quando levantou US$ 300 milhões, a companhia fundada por Brian Armstrong e Fred Ehrsam foi avaliada em US$ 8 bilhões. No ano passado, teve seu primeiro ano com lucro.
Apesar dos números exorbitantes, criptomoeda ainda é coisa de nicho no mercado financeiro – de Wall Street à Faria Lima, muito gestor renomado entende como um jogo artificial que pode implodir, ou ser explodido por reguladores. Grandes companhias como Tesla e Square já negociavam bitcoin, mas o primeiro grande banco americano a lançar fundos específicos da moeda foi o Morgan Stanley – e isso há apenas alguns meses.
No Brasil, gestoras independentes já têm fundos de moedas virtuais e o BTG lançou recentemente um fundo de gestão ativa que compra e vende bitcoins.
No ano passado, o Mercado Bitcoin negociou R$ 6,4 bilhões em ativos digitais e, no início deste ano, já tinha dobrado o volume do exercício – um bom empurrão veio dos preços do bitcoin, mas também houve aumento no número de transações com essa e outras moedas da plataforma.
A companhia foi fundada em 2013 pelos irmãos Gustavo e Maurício Chamati, que hoje estão no conselho. Eles trouxeram executivos de mercado, principalmente com passagem pela Cetip, para tocar o negócio, que vem aumentando as frentes de receita para além do trading de moedas, e tem procurado todas as regulações possíveis para se enquadrar sem risco. A Coinbase também é conhecida como uma bolsa pró-regulação.
Em janeiro, a Mercado Bitcoin recebeu uma rodada para investimento de R$ 200 milhões de gestoras como GP Investments, Parallax Ventures e Banco Plural. Em entrevista ao Valor na ocasião, Gustavo Chamati e o CEO, Reinaldo Rabelo, destacaram a expansão internacional da companhia.
Se a estreia da Coinbase for bem sucedida, pode ajudar a precificar o Mercado Bitcoin a múltiplos mais altos e atrair investidores. As estimativas internas, apurou o Pipeline, são de que o Mercado Bitcoin seja cerca de 5% da Coinbase, considerando métricas como receita, volume de trade, número de clientes. O valuation inicial é estimado em metade disso, considerando o tamanho do mercado local e a volatilidade desse segmento. Procurado sobre o IPO, o Mercado Bitcoin não comentou… Fonte PIPELINE – Valor Econômico Leia mais em clippingdotblog 13/04/2021