Fusão entre Restoque e Inbrands fracassa de novo

Por: Valor Ecônomico

Pela segunda vez em dois anos, as negociações entre as varejistas de moda Restoque e Inbrands para combinar suas operações não deram certo. As companhias informaram ontem que foram encerradas as discussões sobre uma possível fusão. Não foram alcançadas condições “mutuamente aceitas” entre as partes. O aviso ao mercado não traz detalhes sobre a questão.

O anúncio de um possível acordo foi feito em 2 de junho, e nele, foi informado que a empresa a ser criada poderia captar recursos por meio de uma oferta pública de ações ancorada nos principais acionistas de ambas. A Restoque controla marcas como Le Lis Blanc, John John, Rosa Chá e Dudalina. Já a Inbrands não é dona da VR, Richards, Ellus, entre outras.

Companhias em situação financeira delicada, as duas tiveram queda em receita no primeiro semestre, na comparação com igual intervalo do ano passado. Também viram lucro virar prejuízo no período. As varejistas negociavam uma união para obter ganhos de sinergia que pudessem torná-las mais eficientes e rentáveis. Somadas, elas tiveram receita bruta de R$ 1,2 bilhão de janeiro a junho e prejuízo total de R$ 110 milhões.

Circularam informações no mercado ontem a respeito das razões que levaram ao fim do acordo, em versões aparentemente conflitantes, um indicativo de como parece difícil para os grupos chegarem a um denominador comum. Algumas fontes próximas às empresas alegaram falta de entendimento em relação ao valor atribuído à participação que cada companhia teria na operação.

A proposta da Inbrands, que teve o BTG Pactual como assessor financeiro, estipulava que a companhia ficaria com 20% dos negócios combinados. A oferta não teria agradado a Restoque. Embora os problemas societários da Restoque não estejam pacificados, a relação entre os sócios já viveu dias piores, segundo um dos acionistas da companhia.

Outra fonte apontou justamente a falta de entendimento entre os sócios da Restoque como entrave para o avanço nas negociações. Por essa versão, os prazos determinados entre as partes não teriam sido cumpridos pelos controladores da Restoque, o que teria levado ao fim das negociações.

Warburg Pincus e Advent International somam 44,5% da Restoque e os sócios brasileiros Marcio da Rocha Camargo e Marcelo Faria de Lima, da Artesia, 42,6%. As ações em negociação no mercado atingem 6,3%. Na Inbrands, o Fundo de Investimento em Participações -PCP, da Vinci Partners, tem 39,41% e o fundo Amazon, e os sócios Nelson Alvarenga Filho e Americo Breia têm outros 39,41%. O restante pertence a outros investidores.

Procuradas, Restoque e Inbrands não comentaram questões envolvendo o fim das tratativas. Artesia, Vinci, Warburg e Advent também não se manifestaram.

As informações sobre desentendimentos entre os sócios da Restoque cresceram no início do ano, após movimentações de compra de ações. No fim de março, Marcio da Rocha Camargo e Marcelo Faria de Lima passaram de uma fatia somada de 14% na companhia para 42,6%, versus posição de 42% dos fundos Advent e Warburg Pincus.

Esse avanço dos acionistas brasileiros não teria sido muito bem recebido pelos fundos, que viram o movimento como uma tentativa hostil de buscar o controle.

Isso mudou nos últimos meses. Hoje, os fundos estrangeiros superam os sócios brasileiros – passaram de 42% para 44,5%, segundo informação arquivada na CVM em maio passado. Nesse intervalo, o volume de ações no mercado caiu de 8,8% para 6,3%.

O fim das conversas para uma potencial fusão com a Restoque traz mais efeitos colaterais para a Inbrands, segundo Dоuglas Carvalho, sócio da Target Advisor, consultoria especializada em varejo. Sem um acordo, a Inbrands pode ter que contar com um aporte dos controladores para sanar o endividamento alto no curto prazo.

Para a Restoque, a situação também não não é nada confortável, pois a empresa perde a chance de liderar, em número de lojas, o varejo de moda na América Latina. A companhia combinada teria mais de 720 pontos de venda, entre próprios e franquias.

No primeiro semestre, a Inbrands registrou prejuízo líquido de R$ 72,5 milhões, contra lucro de R$ 5,2 milhões um ano antes. A receita líquida caiu 5,4% de janeiro a junho e o caixa líquido terminou o semestre negativo em R$ 1,4 milhão. A dívida líquida totalizou R$ 549,3 milhões, queda de 5,7%.

A Restoque teve perdas de R$ 37 milhões na primeira metade deste ano, versus lucro de R$ 16,7 milhões em 2015. A receita recuou 10,3%, para R$ 592,6 milhões. A dívida líquida somou R$ 761,3 milhões, alta de 1,8%. (Colaboraram Vinícius Pinheiro, Carolina Mandl e Juliana Machado).

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