Michael Dell, fundador daquela que já foi a maior fabricante mundial de PCs, saiu dos holofotes quando decidiu fechar o capital da Dell Inc., há dois anos. Agora, ele está de volta com o que promete ser o maior negócio de tecnologia da história, a aquisição daEMC Corp. O negócio de US$ 67 bilhões, anunciado ontem, poderia ajudar a provar se ser maior não é realmente melhor quando se trata de vender tecnologia para grandes empresas.
Dell, ao anunciar o acordo em dinheiro e ações, prometeu desempenhar um papel mais central na tecnologia corporativa. A EMC acrescentaria ao leque de produtos e serviços da Dell a linha mais ampla de hardware de armazenamento de dados no setor, bem como o software de centros de dados da VMware Inc. e outras empresas de alto perfil.
O valor oferecido pela Dell, em parceria com a firma de private equity Silver Lake, de US$ 33,15 por ação, representa um prêmio de 28% sobre a cotação de fechamento do papel da EMC antes de o The Wall Street Journal ter divulgado, na semana passada, que as empresas estavam negociando uma fusão.
A Dell afirmou que pretende financiar a aquisição com uma combinação de novas ações ordinárias do diretor-presidente, Michael Dell, da Silver Lake e de outros investidores, a emissão de “tracking stocks” — ações vinculadas ao desempenho de uma subsidiária da EMC —, novos financiamentos e o caixa disponível. Não há condições financeiras impostas para o fechamento da transação, afirmou a Dell. Ela divulgou recentemente que tinha cerca de US$ 12 bilhões em dívidas.
Toni Sacconaghi, analista da firma de pesquisa e gestão de investimentos Sanford C. Bernstein, diz que a Dell vai precisar levantar cerca de US$ 45 bilhões em dívida para financiar o negócio. “Estamos um pouco surpresos que a Dell tenha sido capaz de obter o financiamento”, escreveu ele ontem numa nota a clientes.
A fusão marcaria o desfecho da longa busca de Dell para transformar sua companhia de uma especialista em computadores pessoais em uma provedora universal da maioria dos serviços de tecnologia de que as grandes empresas necessitam.
“Vemos nossos clientes engajados numa enorme transformação digital”, disse Dell numa entrevista conjunta com Joe Tucci, diretor-presidente da EMC. Acrescentar à Dell os recursos de hardware e software da EMC daria à empresa combinada uma capacidade sem paralelo de vender tecnologia para ajudar [essas grandes empresas], disseram eles.
Dell disse que a companhia que fundou conseguiu reduzir sua dívida continuamente desde que fechou seu capital, em 2013. Ele planeja pagar uma grande parte da dívida da empresa combinada no período de um a dois anos após o fechamento do negócio.
A VMware, pioneira de software de virtualização da qual a EMC detém 80%, continuará sendo uma empresa de capital aberto, tendo a Dell como seu acionista controlador. Embora alguns analistas tenham especulado que Dell poderia vender algumas de suas ações na VMware para financiar a transação, ele disse que planeja manter sua fatia. “Poderíamos aumentar nossa participação com o tempo”, disse ele.
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A cotação das ações da EMC subiu quase 1,8% ontem, para US$ 28,35. As ações da VMware recuaram 8,1%, para US$ 72,27, embora tenha divulgado resultados preliminares acima das expectativas de Wall Street. Alguns analistas manifestaram o receio que a emissão das “tracking stocks”, que pagam dividendos conforme o desempenho da empresa, efetivamente diluiria a participação dos acionistas da VMware.
Uma fusão entre a EMC e a Dell, se concluída, criaria a maior empresa de capital fechado do mundo no setor de tecnologia. O acordo pendente da fabricante de chips Avago Technologies para comprar a Broadcom Corp. por US$ 37 bilhões seria a segunda maior aquisição já ocorrida na indústria de tecnologia.
Tucci permanecerá no comando da EMC até o negócio com a Dell ser concluído. Depois disso, Dell assumirá a direção da empresa combinada, como diretor-presidente e presidente do conselho. Tucci, que tem 68 anos, vinha há vários anos tentando deixar o comando da empresa. Na entrevista, ele disse que queria ver a EMC se tornar parte de uma entidade maior para fazer frente aos desafios da indústria. “Coloque tudo isso junto e você precisará de um parceiro”, disse.
No blog da EMC, Tucci observou que a empresa combinada terá cerca de US$ 80 bilhões em receita anual e será “operada de forma bem mais eficiente como uma empresa de capital fechado”, com a capacidade de “incubar” e mais liberdade para investir no longo prazo.
A Dell, que já não é a maior vendedora de servidores para empresas, já construiu um negócio paralelo de tamanho considerável no segmento de armazenagem de dados. Mas uma grande proporção de suas vendas na área vem de pequenas e médias empresas, muitas das quais encomendam equipamentos por meio do site da fabricante.
A EMC, por outro lado, possui a linha mais ampla de equipamentos de armazenagem na indústria e uma posição sólida em muitas grandes empresas clientes. A EMC também tem várias unidades de software e uma vasta equipe de vendas e parceiros que a ajudam a cortejar clientes corporativos.
Ainda assim, tanto os negócios da Dell quanto os da EMC estão sob forte ataque. O crescimento em categorias maduras de servidores, armazenamento de dados, equipamentos de rede e outros equipamentos que mantêm as empresas operando estagnou.
Os dispositivos móveis têm corroído as vendas de PCs e a computação em nuvem oferece às empresas o que pode ser uma alternativa de baixo custo para a aquisição e manutenção de seu próprio hardware e software.
A concorrência não é cada vez mais forte com rivais ricos como a Amazon.com Inc., aMicrosoft Corp. e a Alphabet Inc., dona do Googlo, e também com uma série de “startups” agressivas e fabricantes chineses mais baratos.
A consolidação não é uma resposta comum a mercados inconstantes, mas o histórico de fusões como esta nem sempre não é encorajador, especialmente no campo da tecnologia. Por exemplo, a HP levou anos para extrair lucros da aquisição da Compaq, por US$ 25 bilhões, em 2001, e o acordo atou a HP a um negócio que se tornou uma commodity. A empresa agora planeja se dividir em duas.
Veteranos do Vale do Silício foram rápidos em apontar para os perigos à frente da Dell na tentativa de incorporar a EMC.
“Integrações como essa são extremamente confusas e podem levar muito tempo”, disse Steve Herrod, ex-diretor de tecnologia da VMware e diretor-gerente da firma de investimentos General Catalyst Partners.