Empresas estrangeiras aproveitam real fraco para fazer aquisições no Brasil

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As empresas brasileiras estão mais baratas hoje do que em muitos anos, oferecendo aos caçadores de pechinchas oportunidades de fazer aquisições de primeira linha.

Mas são os investidores estrangeiros que parecem mais entusiasmados com as perspectivas do Brasil do que os próprios brasileiros, muitos dos quais estão apreensivos com a turbulência política e o consequente agravamento da desaceleração econômica.

No início deste mês, a americana Coty Inc. aceitou pagar US$ 1 bilhão pela unidade de produtos de beleza da Hypermarcas, expandindo sua presença no Brasil.

Até outubro, investidores internacionais como a Coty fecharam 285 negócios de fusões e aquisições no Brasil, 5% mais que nos primeiros dez meses de 2014, segundo dados da consultoria PricewaterhouseCoopers. Enquanto isso, os brasileiros fizeram 275 negócios neste ano, 26% menos que no mesmo período do ano passado.

É o primeiro ano desde 2000 que empresas estrangeiras fazem mais negócios que as locais, diz Rogério Gollo, sócio e líder da área de fusões e aquisições da Pricewaterhouse no Brasil. “Se você tivesse me perguntado em janeiro, eu não diria que isso estava para acontecer”, diz ele.

O que virou a maré para muitos investidores foi a desvalorização de mais de 30% do real em relação ao dólar, que tem beneficiado investidores estrangeiros. Além disso, o agravamento da situação econômica do Brasil — exacerbada pelo enfraquecimento do governo federal — tem prejudicado as empresas locais.

Esses altos e baixos são comuns em mercados emergentes e os investidores esperam que o Brasil se recupere graças à força de sua crescente classe média e sua riqueza em commodities. Para os dispostos a encarar alguma volatilidade, apostar no Brasil agora pode gerar ganhos consideráveis, diz Gollo.

“O comprador que olha para o Brasil com um horizonte maior que três anos está fazendo um bom negócio”, diz ele.

O quadro atual, porém, não é desolador. O envolvimento do governo em setores vitais e o afrouxamento da política monetária desencadeado no primeiro mandato de Dilma Rousseff deixou o governo afundado em dívidas e lutando para tapar um buraco enorme no orçamento. As reformas ficaram em segundo plano à medida que o Congresso passou a se concentrar no gigantesco escândalo de corrupção da Petrobras e nas discussões sobre um possível impeachment da presidente.

Quando você tem uma crise dessa magnitude, você precisa de visão […], mas o governo não tem isso”, diz Ricardo Lacerda, sócio-fundador e diretor-presidente do banco de investimento BR Partners.

Como resultado, o nível de confiança das empresas, dos consumidores e dos investidores despencou. A previsão não é que o PIB recue mais de 3% neste ano. A taxa de desemprego nas áreas urbanas atingiu recentemente o nível mais alto em cinco anos, de 7,6%, e a inflação anual está em torno de 10%. A produção industrial caiu cerca de 11% em setembro em relação a um ano atrás.

Entre os setores mais duramente atingidos está o automotivo. As vendas de veículos até outubro somaram 2,15 milhões de unidades, volume 24% menor que nos dez primeiros meses do ano passado. Milhares de trabalhadores do setor foram demitidos ou estão de licença. Algumas montadoras que fizeram grandes apostas no Brasil estão pisando no freio.

A chinesa Chery Automobile Co. Ltd. adiou um investimento de US$ 300 milhões na fábrica que possui em Jacareí, diz Luis Curi, diretor da empresa no Brasil. Até outubro, as vendas da Chery no país somaram 4.704 veículos, uma queda de 38% ante o mesmo período do ano passado, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Curi diz que a empresa foi afetada pela demanda em queda e a alta do custo com peças importadas provocada pela desvalorização do real. “Estamos vivendo uma tempestade perfeita no Brasil.”

Em contraste, as vendas no Brasil da Honda Motor Co. subiram 15%, para 125.061 unidades, no acumulado do ano, segundo a Fenabrave. Mas a montadora japonesa também está revendo seus planos de investimento em meio à preocupação com a instabilidade econômica e política.

A empresa anunciou no fim de outubro que vai adiar a abertura de sua segunda fábrica no Brasil, em Itirapina, SP, e que ela será inaugurada “conforme os acontecimento no mercado”.

 

Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda na América do Sul, diz que a montadora continua confiante no Brasil no longo prazo, mas no momento está adotando uma postura cautelosa. “O que mais nos preocupa não é a incerteza, tanto política quanto econômica.”

(Colaborou Rogerio Jelmayer.)

Site WSJ

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