Um número crescente de boas empresas que repentinamente se viram em dificuldades está chamando a atenção de fundos especializados em ativos em situação de estresse. Na maior parte dos casos são companhias com endividamento alto, por vezes em dólares, e que enfrentam descasamento do fluxo de caixa com seu passivo, mas são consideradas saudáveis do ponto de vista de patrimônio, operacional e de gestão.
Nesse grupo está o fundo de private equity Acon Investments, norte-americano, que vinha com foco em operações tradicionais e agora busca oportunidades em empresas com dificuldades em seus passivos. Emiliano Machado, executivo da Acon no Brasil, disse que o fundo está olhando ativos em condições pré recuperação judicial, ou seja, a companhia tem saúde operacional, mas o balanço deteriorado.
Rafael Fritsch, sócio da Canvas Capital, de fundos de ativos estressados, afirmou que os próximos dois anos devem ser marcados por um número grande de transações e troca de mãos de ativos. Para ele, um indicador dessa mudança no ambiente do risco brasileiro está hoje no fato de que o bônus de dívida de empresas como Petrobras, Vale, Oi, CSN e Banco do Brasil podem oferecer retorno que companhias como o Frigorífico Independência, Celpa, Grupo Rede e OGX proporcionavam há cinco anos, lembrando que todas passaram por processo de recuperação judicial.
Executivos presentes no VII Congresso TMA Brasil de Reestruturação e Recuperação de Empresas notaram ainda que os bancos estão mudando seu comportamento. “Há mudanças, por falta de opção e pelo entendimento de que pode haver problemas para seus próprios balanços”, comentou Renato Boranga, vice-presidente da Moelis & Company. Luis DeLucio, diretor-gerente da Alvarez & Marsal, acrescentou que as instituições financeiras estão mais inclinadas a negociar antecipadamente.
Fritsch, da Canvas, disse ainda que provavelmente os bancos acabarão aumentando a venda de carteiras e que isso tende a se tornar uma prática como não é em outras partes do mundo. Segundo ele, existem três bancos com propostas no mercado de venda de carteiras grandes.
O executivo não mencionou diretamente as cifras, mas citou R$ 3 bilhões como um volume que seria capaz de mudar a dinâmica atual do mercado, onde a prática são lotes de milhões. “Acontecendo a primeira, veremos um volume importante”, disse.