Chinesa Spic entra no complexo termelétrico do Porto do Açu
A Spic Brasil, subsidiária da chinesa State Power Investment Corporation, concluiu o acordo com a Prumo, Siemens e a BP, para entrar como sócia no complexo termelétrico do Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). O negócio marca a estreia da estatal asiática na geração a gás natural no Brasil. A empresa tem planos para aumentar em 3 gigawatts (GW) a sua capacidade instalada no país até 2024 e vai em busca de novas oportunidades em gás e renováveis. Já a Prumo, controlada pelo fundo EIG, comemora a chegada de mais um parceiro com quem dividir investimentos nas obras da segunda usina do porto e nos leilões de energia.
Com a transação, a Spic assume 33% das usinas GNA I (1,3 GW), já construída e que começa a operar comercialmente em junho, e GNA II (1,7 GW), cujo início das obras deve ocorrer no segundo semestre. Além disso, o acordo também prevê a opção para que a chinesa participe dos futuros projetos GNA III e GNA IV, que somam mais 3,4 GW, e dos gasodutos e da unidade de processamento de gás do Açu. Todo esse complexo, incluindo as térmicas e a infraestrutura de gás, vai demandar US$ 5 bilhões.
Brasil está entre os mercados prioritários da Spic, que atua em 64 países, diz Adriana Waltrick, presidente.
valor do negócio que marca a chegada da Spic no parque termelétrico do Açu é mantido em sigilo pelas partes. A expectativa no mercado, contudo, é que, se a chinesa decidir participar de todos os investimentos do complexo, vai entrar com US$ 1,65 bilhão – o equivalente à fatia de um terço do orçamento previsto para desenvolvimento do projeto de gás e energia do Açu, na íntegra, incluindo, nessa conta, o dinheiro investido na primeira usina.
O presidente da Prumo, Tadeu Fraga, comemora a chegada de um “parceiro de peso”, que traz não só capital, mas também a expertise de um gerador de energia para o projeto.
Do ponto de vista financeiro, as empresas firmaram este mês contrato de financiamento de US$ 737 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a GNA II, prevista para 2023. O início das obras, porém, está ligado ao comportamento da curva da pandemia de covid-19. A ideia é buscar uma segunda fonte de financiamento e alavancar mais o projeto, que demandará 5 mil trabalhadores. A GNA III e GNA IV ainda precisam garantir contratos nos leilões de energia para saírem do papel.
A Spic entra com uma fatia de 33% nas sociedades de propósito especifico (SPEs) de GNA I e GNA II, em parceria com a GNA Infra (45%) – joint venture formada pela Prumo, BP e a Siemens. Além da participação indireta, por meio da GNA Infra, a Siemens possui, diretamente, mais 22% do complexo.
A presidente da Spic Brasil, Adriana Waltrick, disse que GNA I e GNA II adicionarão cerca de 1 GW à capacidade instalada da empresa no Brasil, o equivalente a um terço daquilo que a companhia traçou como meta de expansão para quatro anos. A chinesa possui um parque gerador de 160 GW, no mundo, sendo 1,76 GW no Brasil – incluindo a hidrelétrica de São Simão (MG-GO), com 1.710 MW, e parques eólicos na Paraíba.
A ideia é que os outros dois terços da meta de expansão venham da contratação da GNA III e GNA IV nos leilões de energia e de oportunidades na área de geração de energias renováveis, como solar e eólica e hidrelétricas – seja por meio da aquisição de ativos existentes ou desenvolvimento de projetos do zero (“greenfield”).
“Nosso foco atual é a GNA e eventualmente leilões que entendamos que sejamos competitivos. Estamos prontos para começarmos a acompanhar o retorno dos leilões de energia no Brasil”, afirmou Waltrick ao Valor.
Ela afirmou que, dos 64 países onde a Spic tem atuação, o Brasil está nos “10% de mercados mais prioritários”, ao lado de países como Índia, Turquia, Paquistão, Austrália, Chile, além do continente da América do Norte. Ao ser questionada se os ruídos diplomáticos entre China e Brasil interferem nos planos para o mercado brasileiro, a executiva disse que a companhia está no país de olho numa visão de longo prazo. “São apenas ruídos.”
Sobre a expansão do parque termelétrico do Açu, Fraga disse que os projetos GNA III e GNA IV estão prontos para irem a leilão. A empresa deposita as fichas nas licitações A-5 e A-6 deste ano. Ele vê com bons olhos a retirada das restrições existentes sobre o nível de inflexibilidade das usinas a gás. Na prática, em geral, projetos que se comprometem com níveis menos flexíveis conseguem preços mais competitivos para o gás – uma vez que garantem um volume maior de demanda firme pelo combustível. “O fato de já termos um terminal de GNL [gás natural liquefeito] é um diferencial. O compartilhamento da parte de utilidades da GNA I e GNA II torna os futuros investimentos mais eficientes.”
Além da importação de GNL, Fraga também cita que a Prumo mantém conversas com os produtores de gás do Brasil e que tem a expectativa de que um dia as usinas do Açu sejam abastecidas pelo pré-sal. “O leilão [de novas usinas] é que pode fazer o casamento acontecer”, afirmou, em referência a um eventual acordo para construção de um gasoduto ligando o pré-sal ao porto. “Mas nosso plano A [entre gás nacional e GNL] será sempre aquele que trouxer mais competitividade”, ressalvou.
Fraga afirmou, ainda, que o Açu se prepara para entrar nas energias renováveis. A Prumo aposta na demanda das próprias empresas dentro do próprio porto. “Estamos analisando a melhor estratégia para avançar. A demanda no próprio Açu começa a fazer sentido [para usinas no porto]. Este ano vamos avançar em renováveis”, disse. Fonte: Valor Econômico Leia mais em abegas 01/02/2021