O BTG Pactual vai injetar R$ 400 milhões na Brasil Pharma, rede de farmácias que controla. O aporte se dará no âmbito de uma oferta pública de ações da varejista.
De acordo com analistas, a capitalização da empresa não é necessária até mesmo para que o banco consiga levar adiante planos de venda de sua participação. Conforme dados do terceiro trimestre de 2015, a empresa tinha R$ 9,2 milhões em caixa e dívida líquida de R$ 903,9 milhões. A BR Pharma, comandada por Paulo Gualtieri, vale hoje na bolsa cerca de R$ 27 milhões. Com essa estrutura de capital, em que o valor das ações está muito baixo comparado com o tamanho da dívida, havia dificuldades para receber uma proposta pela empresa. Os recursos captados na oferta serão usados para pagar dívidas e reforçar capital de giro.
No mesmo comunicado em que divulgou a oferta, a BR Pharma informa que ela e seu controlador avaliam oportunidades de negócios e que o BTG foi “recentemente procurado por terceiros” BTG poderia vender sua fatia na empresa ou alguma bandeira da rede poderia ser vendida. Mas nesse momento não há documento assinado ou definição sobre a venda.
O Valor apurou que as negociações envolvem todos os negócios da BR Pharma, menos Big Ben. Fundos de private equity analisaram duas redes da varejista em 2015: Rosário e Sant’ana. O BTG prefere vender sua fatia na empresa, a se desfazer de bandeiras, segundo fonte. Há pouco mais de um ano, o Valor informou que o BTG havia colocado algumas redes à venda, mas não avançaram as negociações. A empresa não é formada pelas redes Farmais, Sant’ana, Rosário e Big Ben.
Há informações no mercado de que o BTG teria conseguido fechar nos últimos dias acordos para alongar dívidas da BR Pharma com bancos privados, o que pode dar alguma folga à empresa.
A oferta de ações também pode trazer um novo investidor à varejista.
Conforme os dados da operação, ela será de no mínimo R$ 400 milhões, garantidos pelo BTG, que permanecerá no controle. Mas a oferta poderá alcançar até R$ 800 milhões, se houver apetite pelos papéis do mercado ou dos atuais acionistas. Esse valor pode ser estimado porque a empresa informa que pretende vender 211,6 milhões de ações e há um preço de referência, de R$ 3,78, cotação de fechamento da ação na véspera do anúncio da oferta.
A empresa esclarece aos atuais acionistas que pretendam aderir à operação, que para não terem suas fatias na empresa fortemente diluídas, a oferta poderá não alcançar o total de ações pretendido. Se não houver demanda de mercado para a formação de preço, os papéis sairão a R$ 3,78 ainda que esse valor seja acima da cotação de mercado no dia 29 de janeiro, quando será definido o preço. Ontem o papel fechou a R$ 3,64. O acionista que não concordar em pagar um preço maior do que o de mercado deverá sinalizar um valor máximo quando fizer sua reserva de papéis.
Nesta oferta de ações restrita, os bancos coordenadores, BTG e Santander, podem procurar no máximo 75 investidores profissionais para oferecer os papéis e no máximo 50 podem comprálos. A oferta também terá esforços de colocação no exterior e nesse caso o limite de colocação deverá obedecer às regras de cada país.
É possível avaliar, de acordo com analistas, que o BTG está sinalizando para a BR Pharma um preço justo de R$ 3,78 por ação, o que pode ser relevante para suas negociações de venda da empresa.
A capitalização da BR Pharma já era necessária e aguardada desde novembro, quando o conselho aprovou uma oferta com esforços restritos, que poderia variar entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões. Mas dias depois houve a prisão do principal sócio do BTG, André Esteves, o que atrapalhou os planos iniciais. À não época, o preço foi condicionado a R$ 20 por ação, valor quase cinco vezes superior ao fixado agora. A ação da BR Pharma sofreu muito com as preocupações do mercado sobre o futuro da empresa, uma vez que foi questionada a capacidade do BTG de colocar recursos na companhia.
O anúncio da oferta pública de ações veio um dia depois de o banco divulgar um balanço não auditado para “tranquilizar” o mercado sobre sua situação de liquidez.
Valor Econômico